Quando família e escola educam com os mesmos critérios, as diferenças entre os dois ambientes se reduzem, e quem ganha é a criança.
Andrea Ramal
A acolhida de famílias nas escolas é um momento muito importante numa relação que precisa de confiança e de muita parceria, principalmente porque se pretende que seja uma relação de longo prazo e de muitas responsabilidades compartilhadas. Nas escolas bilíngues, essa ocasião precisa ainda mais de atenção devido à natureza multilíngue e multicultural da comunidade escolar, que também estará em desenvolvimento. Para que haja sucesso no processo de aprendizagem dos estudantes e no desenvolvimento de uma comunidade escolar coesa e acolhedora, esse primeiro encontro precisa ser cuidadoso e transparente, não só apresentando os benefícios da escola em si, mas também os desafios e as formas de vencê-los.
Quando uma nova família é recebida com entusiasmo e respeito na escola, isso pode ter um impacto positivo e significativo na vida dos estudantes e na dinâmica da escola como um todo. Além de ajudar as famílias a se sentirem integradas à comunidade escolar, a acolhida pode ser uma oportunidade para a escola compartilhar informações importantes sobre o currículo bilíngue, as políticas e as expectativas quanto ao desenvolvimento bilíngue dos estudantes, o que pode ajudar a evitar desafios comuns ao longo da jornada. Essa acolhida também pode contribuir para a construção de uma cultura escolar inclusiva e respeitosa. Quando as pessoas se sentem bem-vindas e apreciadas, elas tendem a se envolver e contribuir mais ativamente, porque têm a chance de compreender o seu papel na relação com a escola rumo ao desenvolvimento acadêmico, linguístico, social e emocional dos estudantes. Nos contextos de ensino bilíngue, isso pode ajudar a aprofundar as práticas pedagógicas da escola e a criar um ambiente de aprendizado mais colaborativo e positivo para todos os estudantes, independentemente de sua língua ou cultura de origem.
Além disso, a acolhida de novas famílias pode ser uma oportunidade para a escola bilíngue reforçar seu compromisso com a diversidade linguística e cultural, além de seu comprometimento com as diretrizes nacionais e internacionais de educação. É importante que as novas famílias se sintam bem-vindas e bem-adaptadas ao ambiente escolar para que tenham relações interpessoais saudáveis e que possam se concentrar integralmente no desenvolvimento de seus filhos.
A seguir, algumas dicas práticas para ajudar a acolher as novas famílias na escola bilíngue:
É dando que se recebe
É importante fornecer informações claras e completas sobre o currículo bilíngue, as políticas e as expectativas da escola por meio da partilha de exemplos reais. É essencial que as novas famílias saibam onde procurar informações e quem contatar caso tenham dúvidas. Além disso, é crucial ser bom ouvinte nesse momento, pois nessa troca, muitas informações sobre a família também são compartilhadas, e isso é de extrema valia no decorrer do ano.
Uma andorinha só não faz verão
Organizar um encontro com a direção e a coordenação da escola é uma ótima oportunidade para as novas famílias conhecerem a liderança da escola e aprenderem sobre o currículo e as políticas que o embasam. Interessante também é o encontro com os educadores dos novos estudantes, pois pode ajudar a estabelecer uma conexão entre as famílias e esses profissionais. Além disso, esse contato contribui para o esclarecimento imediato de quaisquer dúvidas que as famílias possam ter.
O que os olhos não veem, o coração não sente
Um tour guiado pela escola pode ajudar as novas famílias a conhecerem melhor o ambiente, já que elas podem ver de perto as instalações, incluindo salas de aula, biblioteca, playground, etc. Precisamos lembrar que o ambiente também ensina, e esse é um excelente momento para trazer essa consciência às famílias. É extremamente importante que esse tour conte com um trajeto bem-planejado, uma vez que, neste momento, é possível integrar a história da escola, sua jornada e suas escolhas administrativas e pedagógicas. Além disso, é uma boa oportunidade de família e escola de se conhecerem melhor, já alinhando e equilibrando algumas expectativas.
Devagar se chega ao longe
Organizar atividades sociais – como jogos, piqueniques ou eventos abertos – e convidar as novas famílias pode ajudá-las a se integrarem à comunidade escolar e a se conectarem com outras famílias.
Diga-me com quem anda e eu lhe direi quem é
É importante que a escola bilíngue promova e respeite a diversidade linguística e cultural de estudantes e familiares, incluindo as novas famílias. No acolhimento das famílias, é fundamental explicar como essa diversidade se torna também um recurso pedagógico, além de contribuir diretamente para a formação cidadã e global dos estudantes.
Águas passadas não movem moinho
Em geral, uma das maiores dificuldades das famílias é entender que a escola, hoje, é bastante diferente da escola na qual eles estudaram. Ainda que em termos estruturais muito tenha se mantido, a forma de ensinar, o modo de promover e avaliar o progresso de aquisição do conhecimento, o papel do educador e da escola, o uso de livros didáticos e outros recursos pedagógicos estão muito melhores. É importante explicar que essas mudanças não são meras tendências. Elas são resultantes de muitas pesquisas para que a escola adotasse um posicionamento mais coerente com as demandas de um mundo moderno, globalizado e informado.
Por fim, compreendemos que a recepção de novas famílias na escola pode acontecer a qualquer momento do ano. Planejar esta acolhida é uma forma de garantir um processo de integração suave, eficaz e positivo, e de reforçar a sensação de pertencimento dessas famílias à comunidade escolar. Aqui no Be – Bilingual Education, sentimos muito prazer em apoiar e contribuir com nossas escolas parceiras também nessas ocasiões. Além disso, estar junto dessas novas famílias é uma excelente oportunidade para que elas tenham maior conscientização do que receberão ao longo dessa relação e para que tomem consciência de sua responsabilidade e de seu papel fundamental no processo de desenvolvimento social e bilíngue dos estudantes como parte daquela comunidade de aprendizagem.
SOBRE O AUTOR
Pedro Brandão
Coordenador-geral da Assessoria Pedagógica do Be – Bilingual Education, formado em Letras pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) e pelo Marietta College (EUA). Especialista em Educação Bilíngue pelo Instituto Singularidades, com certificado CELTA pela Stafford House (UK). Educador bilíngue há 16 anos, com experiência em docência, coordenação, assessoria pedagógica e administração escolar em centros de idiomas, escolas bilíngues e internacionais. Educador e formador de educadores em escolas de ensino básico, da Educação Infantil ao Ensino Médio.