O ambiente também ensina: entenda como o espaço contribui para o aprendizado

Por Renata Assunção | Assessora sênior na Equipe Pedagógica Be – Bilingual Education

Um dos desafios enfrentados por nossos estudantes nos dias atuais é o de aprender a ler o mundo à sua volta e não apenas textos. Na era em que temos a informação na palma de nossas mãos, o educador torna-se mediador. Precisamos cada vez mais ensinar estratégias e não conteúdos. Como podemos garantir um aprendizado de qualidade, frente a todas as mudanças do século XXI? E o que o ambiente de aprendizagem tem a ver com toda esta discussão? 

Estudos apontam que o espaço físico, bem como o social, interferem diretamente no aprendizado dos estudantes. Conhecido como  “terceiro educador”, o ambiente pode ser um aliado que contribui diretamente para um processo significativo e criativo.

Os dois primeiros educadores fundamentais para as crianças são a família e os profissionais da educação. Já o terceiro educador é o espaço, que pode ser definido pela organização espacial dos móveis bem como o que está em exposição pela sala de modo a desenvolver a independência, proporcionar o pensamento crítico e oferecer oportunidades de valorização e apreciação do trabalho produzido pelos estudantes.

A organização espacial

A organização espacial pode ser pensada de maneira a oferecer diferentes experiências para os estudantes, com espaços para trabalhos em grupo e outros para o pensamento individual. Nem sempre, conseguimos criar várias estações de trabalho pela sala, até por uma questão de tamanho de sala de aula, mas isso não é um problema. Com um planejamento bem estruturado é possível promover diferentes momentos ao longo do dia, ou da semana. O importante é manter sempre em mente o objetivo da atividade e como a organização dos alunos espacialmente pode auxiliá-los no melhor aproveitamento da dinâmica.

O espaço como galeria educacional

Outro aspecto importante é a intencionalidade no que está exposto pela sala de aula. “As paredes falam” e, em um contexto bilíngue, elas precisam estampar as línguas que estão sendo utilizadas pela escola. Quando entramos em uma sala de aula e esta comunica aos estudantes e visitantes o que está sendo estudado podemos notar como esse processo pode ser cada vez mais significativo.

É importante, no entanto, que as escolhas dos recursos visuais e produções dos estudantes a serem expostas, bem como o timing e a forma de expô-las sejam fundamentalmente pensadas a partir de intencionalidade pedagógica bem estruturada. Em outras palavras, há que se cuidar com muita atenção para que não seja apenas uma poluição visual ou que o que se exibe não seja meramente decorativo. Aproveite para retomar esses recursos sempre que houver oportunidade, provocando nos estudantes senso crítico a partir daquilo que, muitas vezes, foi criado por eles mesmos. Em geral, esse movimento traz muito mais significado e colaboração deles, já que consequentemente oferece o senso de pertencimento aos estudantes. Assim como a educação e a aquisição de uma outra língua são processos vivos em constante transformação, o planejamento do espaço deve seguir essa mesma premissa. É preciso fazer sentido para aquele contexto e momento da turma.

Escolhas intencionais e funcionalidades

Não precisamos colocar apenas textos. Outros exemplos são imagens, gráficos, quadros comparativos e prompts. É ainda mais eficaz quando os estudantes participam da criação destes murais que estarão pela sala, fazendo referência ao conhecimento que estão construindo.

Estes murais podem ser consultados para dúvidas, para lembrar de um assunto, para mostrar o que foi aprendido, mas sobretudo para estampar o conhecimento que vêm sendo construído por aquele grupo de estudantes. Para saber mais sobre este assunto, você pode ler o livro Making Thinking Visible: How to Promote Engagement, Understanding, and Independence for All Learners – Ron Ritchhart (Visible Thinking teve início no Project Zero de Harvard e é uma abordagem para o ensino do pensamento, que desenvolve o pensamento dos alunos, ao mesmo tempo em que aprofunda sua compreensão dos tópicos que estudam.)

Dicas para escolas bilíngues

Para ajudá-los na construção de um ambiente que facilite o aprendizado do inglês, aqui vão algumas sugestões:

  • Espaços para que os estudantes possam conversar, ler e escrever;
  • Espaço nas paredes para documentos construídos em conjunto com vocabulário, conceitos aprendidos, regras da turma, sight words, pequeno registro do que estão descobrindo nas aulas de ciências, etc…
  • Materiais de referência para pesquisa autônoma como dicionários e/ou computadores e tablets;
  • Biblioteca da sala, com títulos de diferentes níveis e gêneros.

Com algumas mudanças no ambiente, você conseguirá ver uma mudança grande no engajamento de seus alunos.

Para saber mais sobre o assunto, acesse:

The Third Teacher: Designing the Learning Environment for Mathematics and Literacy, K to 8


Sobre a autora

Renata Assunção

Graduada em Pedagogia pela UFMG. Pós-graduanda em Educação Bi/Multilíngue. Pós-graduada em educação pela Universidade de Winnipeg. Mais de 13 anos de experiência profissional como professora e coordenadora pedagógica em escolas da educação básica e institutos de língua inglesa. Assessora sênior em seu segundo ano de atuação no Time Be.

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